Com ajuda de vídeos na internet, vale até cortar o cabelo do pai pela primeira vez.

Moradores em isolamento investem no corte e na pintura do cabelo em casa
Durante a pandemia, Fabrício aperfeiçoou os dotes de cabeleireiro e decidiu cortar o cabelo do pai pela primeira vez. / Foto: Arquivo Pessoal

Enquanto a pandemia de coronavírus (Covid-19) se arrasta pelo País, algumas pequenas decisões cotidianas precisam ser tomadas por quem está cumprindo o isolamento social. Entre elas, a mais polêmica é cortar ou não o cabelo em casa, manter aquela tintura ruiva ou aceitar os fios brancos de uma vez.

Nos Estados Unidos, a tendência pela procura de aparelhos de cortar cabelo e tinturas aumentou potencialmente a partir da quinta semana de isolamento. Aqui em Campo Grande, basta observar as redes sociais para perceber que os primeiros corajosos já decidiram se arriscar no campo da beleza.  

Um deles é o servidor público e analista de sistemas Fabricio Paiva Dorisbor, 33 anos. Em isolamento social por conta da pandemia, ele virou praticamente o cabeleireiro da família. “Primeiro eu cortei do meu filhinho Murilo, de 1 ano. Estávamos com dificuldade em encontrar cabeleireiro de criança. O que cortava o dele se mudou e nos deixou na mão. Achamos outro, mas com uma data muito para frente, aí eu resolvi arriscar nele primeiro, no meu filho”, explica.  

A cobaia era só uma amostra do que estava por vir. “Por se tratar de criança achei que a responsabilidade seria menor, criança não liga para essas coisas. A mãe dele já estava com um pé atrás. No fim das contas, no pequeno ficou um caminho de rato, mas passou no teste”, ri.  

O segundo corte foi no pai de Fabrício que, por ser do grupo de risco da Covid-19, está em isolamento social e não pode ir ao barbeiro. “Com meu pai o motivo foi a quarentena. Por ele ser [do] grupo de risco, me ofereci para cortar o dele”, ressalta.

A foto dos dois mostra a concentração de Fabrício em não errar nem uma pontinha dupla. “Do meu pai já deu mais certo. Mais um cliente satisfeito”, brinca.  

Para o analista de sistemas, o importante é o pai manter os cuidados necessários diante da pandemia. “Meus pais estão cumprindo o isolamento certinho. Inclusive, as compras de supermercado meu irmão é quem está fazendo”, indica.  

Tintura

Há quem vá além do corte e tenha coragem de pintar o cabelo.  

A empresária e tradutora Izabel Arruda, 30 anos, passou os últimos sete anos mudando a cor do cabelo e, agora, durante a pandemia, precisou voltar à cor original para ter um pouco mais de sossego. “Meu cabelo é naturalmente preto. Eu passei os últimos sete anos pintando de várias cores, como loiro, castanho claro. Às vezes voltava para o preto, e nos últimos dois anos foi ruivo”, explica.

Porém, a cor vermelha precisa de muito cuidado para se manter sempre impecável. Sem o auxílio de outra pessoa, Izabel achou que não seria possível manter as madeixas ruivas. “Era um processo bem trabalhoso. Eu precisava ir ao salão ou ter ajuda de alguém em casa pra descolorir a raiz preta e depois pintar tudo de ruivo. E tinha de fazer uma vez por mês porque cresce rápido e o ruivo desbota bastante”, afirma.

O jeito foi dar adeus à cor queridinha e aderir ao tom natural. “Então, quando começou a quarentena, ter de fazer tudo isso sozinha não seria impossível, mas daria bastante trabalho e seria estressante. Por isso eu resolvi pintar de preto, que é a cor natural, para poder passar esse período sem me preocupar”, frisa.  

A tinta foi comprada na farmácia, e todo o procedimento envolveu um pouco de bagunça. “Pintei em casa sozinha e fez bastante sujeira”, confessa.

Izabel já trabalhava em casa antes da pandemia do novo coronavírus e continuou com o isolamento social no último mês, saindo apenas para resolver questões essenciais. “Só saio de casa para fazer o estritamente necessário. O que é bem raro, porque posso pedir quase tudo em casa. Os mercados menores de bairro estão entregando, pelo menos na minha região”, conta.  

Além dela, a mãe e alguns amigos estavam em isolamento, o que dificultava pedir ajuda para resolver uma pendência estética. “Eu poderia ter pedido para alguém pintar e cortar, mas se todo mundo fizer isso, a gente aumenta os riscos. Então preferi fazer a minha parte e me virar. Pintar e cortar cabelo é algo muito irrelevante diante de tudo que estamos passando”, frisa.

Mesmo que seja pequeno, manter um cuidado ao menos básico com a beleza ajuda na autoestima.

“Afeta a autoestima, que afeta a saúde mental, que afeta a saúde física”, ri. “Então, temos de ir levando, buscando algum equilíbrio”, complementa.  

O próximo passo, segundo a tradutora, é tentar cortar as madeixas. “Mas eu ainda não sei se vou cortar. Ele está quase na cintura, então uma hora eu vou ter de cortar. O YouTube que me aguarde”, ri.