Na ocasião, a pastora e advogada Damares Alves, que estará à frente da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos, também mostrou livro criticado por Bolsonaro
Em uma pregação na Primeira Igreja Batista de Campo Grande (MS) em 2013, a futura ministra de Direitos Humanos, a pastora Damares Alves, afirmou que o time de assessores da Câmara dos Deputados — do qual fazia parte — forma um “exército silencioso” que move o funcionamento da Casa. Ela também disse aos fiéis que Deus estaria chamando a “Igreja Evangélica do Brasil” para um novo tempo e uma nova fase de transformação da sociedade. O chamado divino, segundo ela, teria como objetivo uma revisão de valores e de conceitos, com foco na educação das crianças e adolescentes.
— Deus está dizendo para a Igreja: ‘Abre o olho’. É hora de nos levantarmos. Os crentes estão deixando a educação dos seus filhos por conta do Estado. (...) Temos o desafio de salvar esta nação do que está acontecendo — convocou a líder religiosa, que afirmou ainda ter 40 anos de vivência enquanto adepta do protestantismo.
Kit gay: ‘Aparelho sexual & cia’
Para além do discurso inflamado sobre a necessidade de revolucionar valores sociais e reformular o conteúdo lecionado aos estudantes de Ensino Fundamental, Damares passou 20 minutos do culto mostrando slides sobre materiais didáticos supostamente distribuídos em colégios brasileiros.
Uma das publicações exibidas por ela na ocasião foi “Aparelho sexual & cia”, de Hélène Bruller, que Bolsonaro levou à entrevista da qual participou no “Jornal Nacional”, da TV Globo, durante a campanha presidencial. O então candidato afirmou que o livro fora distribuído para alunos da rede pública pelo MEC, assim como sentenciou Damares aos fiéis.
Apesar de não apelidar o livro ilustrado francês de “kit gay”, como fez o presidente eleito, a advogada também descreveu um detalhe para o qual Bolsonaro já chamou atenção recentemente: o livro possibilita que pais e educadores mostrem como funciona um ato sexual utilizando ilustrações e os dedos.
— Se eu quisesse mostrar a Bíblia numa escola, não poderia. Diriam que o estado é laico. Mas são livros como esse que estão sendo mostrados para as crianças — reclamou a futura ministra, defendendo em seguida o trabalho do pastor Marco Feliciano na liderança da Comissão de Direitos Humanos do Congresso à época.
Entre outros produtos culturais criticados por Damares estão “Menino ama menino” (de Marilene Godinho), “Menino brinca de boneca?” (Marcos Ribeiro) e “King & King” (Linda de Haan e Nijland Stern), este último nunca traduzido para o português. No discurso, ela se referiu às publicações como leituras obrigatórias nas escolas recomendadas pelo MEC.
Nem um LP da década de 1980 lançado pela apresentadora Xuxa Meneghel escapou: “Carnaval dos Baixinhos” foi ilustrado com uma polêmica capa com duas crianças seminuas. Cartilhas supostamente distribuídas pelas prefeituras do Rio de Janeiro e de Porto Velho (RO) e pelo Ministério da Saúde a alunos do Fundamental II também viraram alvo da pregação: os conteúdos fariam referência à masturbação feminina, ao ponto G, às relações sexuais homoafetivas, à apologia ao uso de droga e até à zoofilia (segundo a pastora, foi distribuída uma charge chamada “O fazendeiro solitário” que mostra um homem rodeado por galinhas após uma relação sexual com os animais — ela não informou como e quando o material foi utilizado, mas exibiu a imagem aos fiéis).
Homossexualidade aprendida
Ao exibir uma propaganda francesa em que um recém-nascido tem uma pulseira no pulso em que se lê a palavra “homossexual” (e, ao lado, os dizeres “A orientação sexual não é uma escolha”), Damares explicitou qual é a visão dela sobre a atração por pessoas do mesmo sexo:
— Não há prova científica de que o gay nasça gay. Porque se houvesse, eles já teriam jogado na nossa cara. A homossexualidade é aprendida a partir do nascimento — pontuou.
Na semana passada, falas da nova comandante da pasta dos Mulher, Família e Direitos Humanos foram destacadas pelo GLOBO. Em março deste ano, ela disse numa entrevista que as mulheres nasceram para serem mães e que a sociedade ideal as deixaria em casa, fora do mercado de trabalho, sustentadas pelos maridos . Nesta quinta-feira, 6, após ter sido oficialmente indicada para o cargo, Damares disse, em entrevista, que homens e mulheres não são iguais, que travestis precisam ser insideras no mercado de trabalho e que, na opinião dela, o casamento homoafetivo é um "direito adquirido" .
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