Uma pesquisa feita em uma caverna, em Monjolos (MG), descobriu a existência de uma nova espécie de opilião, um primo distante das aranhas. O aracnídeo foi batizado de Iandumoema smeagol; referência a um personagem do livro 'O Senhor dos Anéis', de J.R.R. Tolkien.
“Eu sou apaixonada pela saga, li os livros antes mesmo de ver os filmes. Além disso, assim como o personagem, esse opilião é um simpatizante, um amigo da caverna”, explica a professora Maria Elina Bichuette, do Laboratório de Estudos Subterrâneos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que coordenou o trabalho.
A bióloga destaca que os opiliões do gênero Iandumoema são encontrados somente em cavernas de Minas Gerais; existem três e o Smeagol é um deles. Uma das características exclusivas desse aracnídeo é a ausência de olhos. Nesse aspecto, ele é diferente da criatura rastejante e de moral duvidosa que inspirou seu nome -- o Smeagol de 'O Senhor dos Anéis' possui grandes olhos esbugalhados.
“Esses opiliões não têm olhos, mas apresentam outras modalidades sensoriais, como as pernas alongadas, que permitem tatear o ambiente e o auxiliam a encontrar alimento e parceiros para a reprodução, por exemplo”, diz Maria Elina.
Conhecidos popularmente como “aranhas fedorentas”, os opiliões são chamados dessa forma, pois, ao se sentirem ameaçados, eliminam uma substância fétida que causa incômodo, mas não é venenosa.
O Smeagol apresenta um tom de amarelo mais pálido e chega a quatro centímetros, quando está com as pernas alongadas. Eles foram encontrados em locais com maior umidade, como as paredes da caverna, perto da água. Segundo a pesquisa, foram observados 14 aracnídeos. Os mais jovens são mais ativos, enquanto os adultos são mais sedentários. Em uma das ocasiões, a equipe de pesquisadores notou que um deles se alimentava da carcaça de outros invertebrados.
“Cavernas são um importante refúgio, já que em outras épocas, em períodos de grandes mudanças climáticas, abrigaram faunas que estiveram isoladas ao longo dos anos. O Iandumoema smeagol é um resquício de grupos passados de opiliões, que não existem mais no ambiente externo”, fala a professora.
A descoberta do Smeagol ocorreu durante pesquisas realizadas para uma tese de mestrado, entre 2012 até o final de 2014. Durante os trabalhos de campo, a equipe da bióloga fez levantamentos e conversou com moradores da região. Um deles, chamado Geraldo, mostrou a caverna, que posteriormente foi batizada com o nome dele; a Toca do Geraldo. A preocupação dos pesquisadores é proteger o ambiente, que está ameaçado pela extração de calcário, pelo desmatamento e pela existência de pequenas centrais hidrelétricas.
“Durante esse período íamos para campo a cada três meses, e ficávamos dez dias. A caverna não é cadastrada em nenhuma base de dados. Agora, com a descoberta do Iandumoema smeagol, temos a possibilidade de protegê-la. O projeto continua e pretendemos descobrir quais fatores possibilitaram o isolamento da espécie, de que ela se alimentaa, como se reproduz, entre outros pontos”, finaliza.
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