Imagine um chefe que elogia todos os seus funcionários, promete inúmeras promoções e nunca critica o trabalho de ninguém. Parece um sonho?
Se você respondeu mentalmente que sim, há uma grande chance de você nunca ter trabalhado para alguém com esse perfil.
Quem já teve líderes “bonzinhos” percebe, mais cedo ou mais tarde, que essa atitude prejudica o desempenho e até a motivação da equipe.
De acordo com Jill Geisler, professora do Poynter Institute e autora do livro “Como se tornar um ótimo chefe” (Editora Sextante), a complacência e o medo do conflito são pecados mortais para um chefe.
“Mudanças necessárias são adiadas, maus funcionários não são advertidos e bons funcionários ficam sobrecarregados com tarefas alheias", afirma Jill. "A mediocridade floresce".
Segundo a autora, profissionais ambiciosos, com desejo de crescer, são os mais prejudicados com a inabilidade do gestor para dar feedback negativo.
Oito ou oitenta
Com a popularização do debate sobre assédio moral no trabalho, mais empresas começaram a se preocupar com os "modos" de seus gestores.
Foi uma evolução bem-vinda. “Chefes que aterrorizam suas equipes destroem a motivação para trabalhar", diz Jill. "É ótimo que as empresas tenham percebido os perigos desse comportamento tóxico”.
O único risco dessa atitude é aderir ao extremo oposto: a complacência. “Eliminar as agressões não significa que o chefe não possa ser exigente ou cobrar responsabilidades”, explica a autora.
Nem grosseiro, nem vacilante: o líder ideal é enérgico nas horas certas e sabe criticar sem desrespeitar. “Ele deve ter inteligência emocional para construir relações positivas, dar feedback, treinar e mostrar que se importa com o bem da equipe”, diz Jill.
Padrão nacional
De chefes bonzinhos, o Brasil está cheio. Segundo João Marcelo Furlan, diretor da Enora Leaders, isso se deve ao nosso típico caráter cordial - assunto recorrente em livros de sociologia e blogs de turistas estrangeiros.
“Como outros latinos, o brasileiro odeia dizer não”, diz o especialista. “Temos muito medo de melindrar o outro”.
No ambiente de trabalho, esse padrão de comportamento cria chefes cordatos e paternalistas.
O problema é que, ao se abster de críticas e comentários negativos na rotina, eles acabam surpreendendo seus chefiados quando demitem subitamente um funcionário ou negam uma promoção que haviam prometido. Poupada nas horas erradas, a equipe sofre depois.
Mas dá para mudar uma atitude tão enraizada na nossa própria cultura? O ideal, segundo Furlan, é que as empresas ofereçam treinamento e orientação para mudar a atitude de gestores com esse perfil.
Sem essa intervenção, é quase certo que a produtividade e a motivação da equipe sigam ladeira abaixo. “Se isso ocorrer, ele pode ser até demitido”, diz Furlan. “De uma forma ou de outra, vai aprender a lição”.
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