Otan determina reforço militar no leste, mas aposta em diálogo com a Rússia
Líderes da Otan participam cúpula nesta sexta-feira. / Foto: EFE/Jaceck Turczyk

Os líderes da Otan decidiram nesta sexta-feira posicionar quatro batalhões multinacionais na Polônia e nas três repúblicas bálticas como principal medida de reforço militar no leste da Europa frente à Rússia, país com o qual a Aliança Atlântica quer manter abertos os canais de diálogo.

"Mantemos nosso interesse em manter o diálogo com a Rússia. A Rússia não deve ser isolada", advertiu o secretário-geral aliado, Jens Stoltenberg, em entrevista coletiva ao término do primeiro dia da cúpula da Otan, no qual foram formalizadas as decisões para continuar "o maior reforço da Aliança desde a Guerra Fria".

Concretamente, serão distribuídos 4.000 soldados em quatro batalhões na Polônia, na Estônia, na Letônia e na Lituânia, liderados por Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Alemanha, respectivamente.

Os EUA confirmaram para o próximo ano o envio de 1.000 militares à Polônia, o Reino Unido de 500 à Estônia e de 150 à Polônia, e a Dinamarca 250 sem informar o destino, enquanto a Espanha disse que detalhará em breve sua contribuição, que segundo fontes aliadas consistirá em elementos de apoio aos batalhões.

Além disso, a França fornecerá uma companhia ao batalhão na Estônia, a Noruega uma companhia na Lituânia, a Romênia uma companhia à Polônia e Holanda e Portugal diferentes companhias à Lituânia, enquanto a Polônia assegurará militares nos países bálticos e Bulgária, Itália e Croácia também enviarão soldados, segundo as mesmas fontes.

Os quatro batalhões "são um elemento a mais em nosso esforço para reforçar o flanco oriental da Otan", disse Stoltenberg, que acrescentou que se somam "à força de ação rápida, ao aumento de manobras, à maior atividade de nossas bases, ao aumento das provisões militares na região e à maior coordenação de nossas forças".

Os líderes aliados deram, além disso, sinal verde à criação de uma brigada multinacional na Romênia, composta principalmente por soldados romenos e búlgaros.

Em paralelo, declararam a capacidade operacional inicial do sistema de defesa de mísseis balísticos, de modo que os navios americanos com base na Espanha, o radar na Turquia e a sede do interceptador na Romênia "podem agora trabalhar juntos sob o comando e controle da Otan".

"O que fazemos é inteiramente defensivo, um escudo contra ataques de fora da área euroatlântica", comentou Stoltenberg.

O secretário-geral indicou que os embaixadores aliados explicarão as medidas adotadas hoje a seu colega russo no Conselho OTAN-Rússia previsto para o dia 13 em Bruxelas.

Stoltenberg destacou o forte investimento da Rússia para modernizar sua defesa nos últimos anos e que o país utilizou "a força militar contra uma nação soberana na Europa, violando a integridade territorial e soberania da Ucrânia".

"Por isso ampliamos nossa presença na parte leste da Aliança", resumiu, apesar de ter ressaltado que o diálogo aberto com a Rússia permitirá "evitar incidentes que possam escapar de controle".

Os aliados também impulsionaram hoje uma nova era de colaboração com a União Europeia por meio da assinatura de uma declaração para cooperar mais em segurança marítima, ciberdefesa, ameaças híbridas e consolidação de capacidades de defesa em terceiros países.

Esta primeira jornada da cúpula também esteve marcada pela expectativa criada pela decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia, uma medida que Stoltenberg considerou que "não mudará" a posição de liderança desse país na Aliança.

O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, garantiu que quando seu país sair da UE "não vai dar as costas à Europa nem à defesa e segurança europeias".

Por outra parte, o vice-secretário-geral da Otan, Alexander Vershbow, presidiu uma Comissão OTAN-Ucrânia de ministros das Relações Exteriores na qual destacou que a Aliança pretende avançar na colaboração com o governo georgiano "dentro do contexto de aumento da tensão no Mar Negro e no flanco sudeste".

Os aliados decidiram aumentar o apoio à Geórgia em formação (incluindo a possibilidade de impulsionar um projeto de fundo fiduciário) e comunicações estratégicas, e para desenvolver sua defesa e vigilância aéreas.