A Polícia Militar divulgou nesta quarta-feira (25) o áudio que mostra uma policial militar ajudando um pai de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, a fazer o parto da própria filha nesta terça-feira (24). As orientações foram passadas por telefone. Em entrevista ao G1, o almoxarife David Pereira de Castro contou que fez o parto no chão da garagem de casa. Ele já tinha três filhos, mas nunca tinha visto um parto.
O nascimento de Laura foi inesperado, apesar do casal ter ido em busca de auxílio médico no segunda-feira (23). Castro contou que levou a esposa, Silene Maria Oliveira de Castro, a um hospital em Arujá, cidade vizinha a Itaquaquecetuba, onde ela poderia ser atendida por causa de um convênio. “Mas não quiseram ficar com ela por não ter dilatação e a bolsa não ter rompido ainda. Mas ela já estava sentindo contrações e dores.”
Ele disse que pelo acompanhamento do pré-natal, Silene já tinha completado os nove meses de gestação. “Eu trabalho em São Paulo e no dia seguinte fui trabalhar. Quando cheguei no serviço, ela me ligou e disse que tinha rompido a bolsa. Fui correndo para casa. Quando cheguei, ela só conseguiu descer as escadas e disse que não tinha condições de entrar no carro. Eu a sentei em um banco e a coluna dela travou. Então, liguei para o 190.”
Por sorte, o pai foi atendido pela cabo da Polícia Militar Glaucia Marina Ramos Diringer, que tem formação em enfermagem e estava de plantão no Copom do Comando de Policiamento de Área Metropolitana – 12 (CPAM-12).
Castro disse que ela pediu que ele tirasse a esposa do banco e a deitasse. Neste momento, ele se lembrou de um colchão que estava no chão da sala e o trouxe para a garagem. Com a ajuda do enteado de 17 anos conseguiu tirar a esposa do banco e a posicionou no colchão. Uma vizinha percebendo a movimentação foi até a casa e começou a ajudá-lo. “Mandei meu menino ficar na escada para não ficar vendo. E conforme a policial me pediu para pegar lençol limpo e outras coisas, a minha vizinha falava com o meu menino que subia e entregava para ela que me trazia tudo.” Além de lidar com a emoção, Castro segurava o celular com uma mão e fazia o parto com a outra.
O pai descreve como um momento de pânico um instante em que ficou sem poder falar com a policial Marina. “Ela pediu um momento, acho que para falar com as viaturas. E eu não conseguia mais falar com ela. Foi justo nessa hora que a cabeça da bebê começou a sair. A boca dela estava com sangue e eu fiquei com medo dela abrir a boca, engolir o sangue e se sufocar. Eu não sabia o que fazer.”
Durante todo o tempo, a policial orienta o pai sobre o procedimento.
PM - “Segura. Tá vindo o bebê?”
Pai - “Tá, tá. A cabecinha está para fora.”
PM- “Então, pede para ela fazer força David.”
Pai - “Faz bastante força, Silene.”
PM - “Faz força. Quando vier a contração faz força.”
Pai – Faz força, Silene. Pelo amor de Deus! Tá saindo! Faz força, tá quase saindo Silene. Por favor...”
Enquanto, o pai fazia o parto a policial Marina acionava o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o Corpo de Bombeiro e viaturas da Polícia Militar para ajudarem no procedimento. Castro destacou que quando os policiais chegaram à casa só as pernas do bebê ainda não tinham saído. “Os policiais fizeram o restante do parto e com mais uma força as pernas saíram. Os policiais pegaram a tesoura, cortaram o cordão e deram a criança para a minha esposa.”
Depois de terminado o parto, o Samu encaminhou mãe e filha para o Hospital Santa Marcelina, em Itaquaquecetuba. Ambas ainda estão internadas e passam bem, segundo o pai. Castro explicou ainda que as duas devem ter alta na quinta-feira (26).
Para o pai todo o processo foi muito intenso, especialmente porque ele nunca viu um de seus filhos nascer. “Eu tenho quase 50 anos e ela 37 anos, por isso nos programamos que esse ia ser nosso último bebê. Por isso, fiz a vasectomia há dois meses. Pensei que podíamos perder o bebê. Mas Deus tem que comandar e a menina decidiu nascer ali”. Ele explicou que junto com a esposa tem uma outra menina e com eles vive também o enteado de 17 anos. Além disso, ele tem outros dois filhos do primeiro casamento. “Eu achava que não ia ter coragem de acompanhar o parto. Tenho um neto da minha filha do primeiro casamento. E o meu genro disse que era uma emoção acompanhar o parto e eu estava me preparando para isso.”
Para a cabo Marina, com curso superior em enfermagem, esse foi o segundo parto que ajudou a fazer. Ela contou que o primeiro foi quando ainda estudava, há cerca de três anos. Marina estava de plantão no CPAM-12 e fez o parto na porta do quartel. Por isso, quando atendeu a ligação de David Castro e ouviu seu relato se concentrou em como ajudá-lo. “Eu fechei os olhos e pensei que teria que orientá-lo. Como sou professora de enfermagem também, imaginei a cena e fui falando de uma maneira que ele pudesse entender.” A cabo disse que Castro ligou por volta das 10h e ficou com ele por volta de 17 minutos no telefone. “Depois que passa a gente fica emocionada, mas consegui segurar bem.”
O pai diz que nunca vai esquercer o que sentiu nesta terça. “Já tive muitas emoções na minha vida. Já socorri um casal dentro de uma casa em um incêndio. Já sofri acidente de trânsito. Minha moto foi roubada dentro de casa com homens armados. Já tive arma apontada para a minha cabeça. Mas, nada foi parecido com a emoção que tive durante o parto da minha filha. Nada se compara. Até a hora da minha morte, eu vou lembrar. Se eu nascer de novo, vou continuar lembrando”, afirma emocionado.
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