Preso diz que golpes por celular rendem até R$ 100 mil por mês
Preso do Ceará disse que golpes rendem cerca de R$ 100 mil por mês. / Foto: Reprodução/TV Morena

A milhares de quilômetros de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, um preso do Complexo Penitenciário de Itaitinga, na região metropolitana de Fortaleza (CE), tenta aplicar um golpe por celular. A vítima, Ginez Cesar, jornalista da TV Morena, desconfiou da ligação e gravou a conversa.

A Secretaria de Justiça e Cidadania do Ceará (Sejus) informou que estuda tecnologias para instalar bloqueadores de celular em presídios do estado.

Na ligação, o preso dá orientações e diz que a vítima precisa ir ao banco fazer uma transferência para ganhar um prêmio no valor de R$ 15 mil.

Preso: Transferência, clica em transferência.

Ginez: Transferência.

Preso: Vai receber agora um pagamento de transferência no 'valorzinho' de R$ 5 mil.

Ginez: Ok. 'Tá' perguntando se é poupança ou conta corrente...

Preso: Clica em conta corrente.

Ginez: 'Tá' pedindo o número da agência e o número da conta.

Preso: Número da conta. É que é a conta pagadora.

Ginez: Essa é a conta que vai me pagar, é isso?

Preso: Isso, isso.

O golpista fica nervoso quando percebe que não conseguiria aplicar o golpe.

Preso: Tu pensa que eu sou algum abestado, é? Cabra de pea? Tu pensa que eu sou mentiroso, é, mano? E tu pensa que nós não sabe (sic), é, que tu 'tá' mentindo, é? A central toda sabe aqui, senhor, que o senhor está mentindo, tudo bem?

A conversa continua e o preso acaba contando como ele e os colegas de cela faturam com os golpes de dentro do presídio.

Ginez: Esse esquema aí dá muito dinheiro?

Preso: Dá e muito!

Ginez: E o pessoal cai assim, fácil? Como que é?

Preso: Cai fácil demais, é ligeiro demais.

Ginez: Tem ideia de quanto você consegue de dinheiro por dia, de depósito?

Preso: Na nossa cela, aqui onde nós mora é (sic) 11 presos, tudo criminoso. Tudinho rouba no celular. Aqui quando nós ajunta tudinho (sic), por mês isso aqui ainda dá uns R$ 100 mil aqui nos 11.

Ginez: Média de R$ 10 mil para cada um por mês?

Preso: Dá uns R$ 10 mil pra cada, dá R$ 9 mil, mas é tipo assim, R$ 9 mil... tira R$ 4 mil da maconha e R$ 5 mil pra juntar, né, cara?

O detendo ainda diz que não tem dó das vítimas e que elas merecem perder dinheiro.

Preso: Em Minas Gerais, um coroa lá, que era dono de uma concessionária de moto me disse que tinha R$ 50,2 mil na conta dele. Ele cresceu o olho para receber R$ 20 mil? Foi roubado sabe quanto dele? R$ 30 mil.

Ginez: Em algum momento vocês ficam com dó, assim, das pessoas que caem no golpe?

Preso: Eu não fico, não. A pessoa cresce o olho, né, cara? Aí merece.

A orientação da polícia é sempre desconfiar de uma oferta muito tentadora. A polícia sabe que muitas ligações como essa são feitas de dentro de presídios de todo o país. A questão é como pessoas que já cumprem pena conseguem ter acesso aos celulares para cometer novos crimes.

Com cerca de 700 mil presos no Brasil, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de 2014, a dificuldade é identificar o detendo que fez a ligação.

Segundo o delegado Hoffman D'ávilla, geralmente a conta bancária é aberta por um estelionatário que usa documentos falsos. O chip do celular na maioria das vezes está no nome de outra pessoa, que não sabe do esquema, por isso, quebrar o sigilo telefônico não garante que o preso será identificado.

A Secretaria de Justiça e Cidadania do Ceará (Sejus) informou que está estudando tecnologias de bloqueadores de celulares para instalar nos grandes presídios do estado. O órgão também disse que realiza ações rotineiras para coibir o uso de ilícitos dentro das unidades prisionais e que  aguarda o envio da gravação por parte da TV Morena para que o caso seja investigado.