Vale destacar que, embora com a mesma temática, os projetos apresentam características diferenciadas.
Uma antiga demanda da Embrapa Hortaliças (Brasília, DF) está sendo atendida para além das expectativas iniciais: a reforma da estação de tratamento do esgoto de laboratório e doméstico deu origem a dois projetos, em andamento, que têm como pano de fundo o reúso de esgoto na agricultura.
Intitulados "Uso de sistemas conservacionistas, cultivo protegido e reúso de efluentes domésticos tratados como estratégias para aumento da resiliência dos sistemas de produção de hortaliças às mudanças climáticas" e "Metodologia para sistema de produção de hortaliças de baixo custo, utilizando o reúso de efluentes domésticos tratados de maneira segura", os dois projetos foram aprovados, respectivamente, pelo Sistema Embrapa de Gestão (SEG) e pelo IICA (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura).
Vale destacar que, embora com a mesma temática, os projetos apresentam características diferenciadas.
O pesquisador Carlos Pacheco, na área de engenharia ambiental, explica que, enquanto o projeto aprovado pelo SEG possui maior abrangência e não trata apenas do reúso de esgoto na olericultura, o do IICA contempla o tratamento do esgoto doméstico e sua reutilização em comunidades rurais isoladas, de pequenos agricultores familiares que não têm acesso ao saneamento básico.
"Como estratégia de adaptação do sistema produtivo às mudanças climáticas, o projeto referente à instalação, nos campos da Embrapa Hortaliças, do centro experimental de reúso do esgoto na olericultura também inclui, além do reúso dos efluentes, as técnicas conservacionistas do Sistema do Plantio Direto (SPD) e do Cultivo Protegido", assinala Pacheco.
Com o sistema concluído, o esgoto doméstico tratado na ETE (Estação de Tratamento de Efluentes) vai fornecer água para irrigar a produção da área reservada para os experimentos.
"A ideia é que nos tornemos referência em reúso de efluentes no Brasil e, para isso, vamos fazer um acompanhamento para confirmar a capacidade da estação e a qualidade da água que está sendo produzida", pontua o pesquisador.
Com previsão de entrar em operação durante o mês de novembro, o reúso – pelo menos, ainda conceitualmente, segundo ele – apresenta potencial para tratar o esgoto em um nível tal que permitiria irrigar, por exemplo, plantas de alface, uma hortaliça muito sensível a questões de contaminação pela água.
Pacheco chama a atenção para o fato de a ETE ter sido projetada para funcionar sem a necessidade de energia elétrica, só por gravidade, para que também servisse aos propósitos do projeto desenvolvido em parceria com o IICA.
"Nesse projeto, a proposta é contemplar o tratamento do esgoto doméstico e a sua reutilização em comunidades rurais que não se beneficiam do saneamento básico que seria disponibilizado, ao mesmo tempo em que teriam água para irrigação", sintetiza.
Eficiência do tratamento dos efluentes
A pesquisa sobre o reúso não para aí. O trabalho também envolve o entendimento sobre quais microrganismos poderiam ser utilizados de forma a aumentar a eficiência do tratamento de esgoto, uma etapa que vem sendo conduzida pela pesquisadora Mariana Fontenelle.
Na fase atual, a bióloga vem instalando ensaios em placa com diversos microrganismos que serão selecionados com base no potencial apresentado para degradar a matéria orgânica.
"Os escolhidos serão inoculados nos reatores (utilizados em processos de tratamento biológico de esgotos, com base na decomposição da matéria orgânica) para que se possa aumentar a eficiência por meio do uso desses microrganismos específicos", explicita a pesquisadora.
Outros propósitos do projeto são adequar os sistemas de irrigação ao reúso de efluentes, pesquisa coordenada pelo pesquisador Marcos Braga, e avaliar os efeitos do reúso de efluentes sobre a qualidade do solo e o potencial de uso do efluente tratado na condução de sistemas hidropônicos em cultivo protegido, com a participação dos pesquisadores Ítalo Guedes e Juscimar Silva.
Novas funcionalidades
A concepção dos dois projetos não é recente. Desde 2011, discutia-se internamente na Embrapa Hortaliças a necessidade de uma reforma na estação de tratamento de efluentes, para que tanto o efluente produzido pelos laboratórios (resíduos químicos) quanto o doméstico (esgoto) fossem tratados separadamente.
"A reforma vai possibilitar o tratamento separados desses efluentes – um reator para esgoto de laboratório e outro para esgoto doméstico", destaca Pacheco.
"No fundo, a minha intenção sempre foi aproveitar os efluentes domésticos para criarmos um centro experimental em reúso de esgoto na olericultura", acrescenta o pesquisador, também responsável pela concepção do projeto.
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