Herdeiro do conglomerado sul-coreano, Lee Jae-yong é suspeito de suborno em um escândalo de corrupção que levou ao afastamento da presidente do país, Park Geun-hye.

 Promotoria sul-coreana pede a prisão do vice-presidente da Samsung
Lee Jae-Yong, herdeiro e vice-presidente da Samsung, no dia em que prestou depoimento à Promotoria / Foto: Kim Do-hoon/Yonhap via AP

A Procuradoria da Coreia do Sul anunciou nesta segunda-feira (16) um pedido de prisão de Lee Jae-yong, vice-presidente da Samsung e herdeiro do conglomerado sul-coreano, por suspeita de suborno e peculato em um escândalo de corrupção que levou ao afastamento da presidente do país, Park Geun-hye.

O pedido deve ser analisado pela Justiça na quarta-feira (18), segundo a agência de notícias Reuters.

Lee pagou 43 bilhões de wons (US$ 36,4 milhões, ou quase R$ 120 milhões) em propina para Choi Soon-sil, amiga íntima da presidente e principal alvo do escândalo de corrupção que atingiu o governo, segundo a Promotoria do país.
Lee Kyu-chul, porta-voz do escritório da Promotoria, afirmou que não serão pedidos mandados de prisão a três outros executivos da Samsung interrogados durante o inquérito.

Em nota, o grupo Samsung afirmou que que não aceita as acusações de suborno. "É difícil compreender a decisão da promotoria especial", respondeu a empresa por e-mail a agência de notícias Reuters.

Promotores investigam se o apoio da Samsung a uma empresa e a fundações ligadas a Choi Soon-sil têm relação com a decisão de 2015, do Serviço Nacional de Pensões, de apoiar uma controversa fusão de duas unidades do grupo empresarial (Samsung C&T e Cheil Industries). Ela e o presidente do fundo de pensão estatal (NPS), Moon Hyung-pyo, foram detidos em dezembro.

Os promotores afirmam que Moon recebeu uma ordem de Park para ajudar a fusão e foi indiciado por abuso de poder e falso testemunho. Ele também foi Ministro da Saúde, que supervisiona o NPS, quando o terceiro maior fundo de pensão do mundo apoiou a fusão.

O negócio foi considerado crítico para assegurar que a família de Lee mantivesse o controle sobre o conglomerado Samsung.

Lee Jae-yong, que tem 48 anos e é filho do presidente da Samsung, Lee Kun-hee, e neto do fundador da empresa, vinha assumindo o controle do conglomerado desde que o pai sofreu, em maio de 2014, um infarto que ainda o mantém hospitalizado e sem falar.

Depoimento à promotoria
 
Ele foi interrogado por um grupo de promotores durante 22 horas entre quinta (12) e sexta-feira (13) e afirmou que a presidente afastada da Coreia do Sul pressionou a Samsung para que a empresa doasse dinheiro às fundações, envolvidas no escândalo de corrupção.

A declaração não corresponde ao que Lee Jae-yong havia dito no mês passado, na Assembleia Nacional, onde negou a existência de pressão por parte de Park para fazer doações a entidades ligadas a Choi Soon-sil.

O afastamento de Park Geun-hye foi aprovado pelo Parlamento sul-coreano em 9 de dezembro, mas o impeachment precisa ser ratificado pelo Tribunal Constitucional, que colheu o depoimento de Choi nesta segunda. Amiga íntima da presidente, ela é acusada de extorquir, com a cumplicidade de Park, os principais grupos empresariais do país através de fundações, se apropriando de parte do dinheiro.

A Promotoria não iniciou investigações sobre outros conglomerados sul-coreanos. Dezenas de empresas do país fizeram contribuições para as fundações, mas as da Samsung foram as maiores.
 

Suspeitas contra a Samsung
 
Os investigadores acreditam o grupo Samsung assinou um contrato no valor de 22 bilhões de wons (cerca de US$ 18,3 milhões, ou R$ 58 milhões) com uma empresa com sede na Alemanha, propriedade de Choi, e apoiou financeiramente sua filha, Chung Yoo-ra, que se dedica ao hipismo, para que treinasse no país e comprasse novos cavalos.

Chung Yoo-ra foi detida no começo do ano na Dinamarca, acusada de estadia ilegal no país. A jovem de 20 anos tinha sido incluída na lista de procurados da Interpol, após ter ignorado diversos chamados para depor como testemunha na Coreia do Sul, e deve ser extraditada.

A Samsung também doou 20,4 bilhões de wons (US$ 16,3 milhões, ou R$ 52 milhões) para duas fundações operadas por Choi, mas diz que o dinheiro estava destinado a promover a cultura local no exterior e o esporte. A suspeita é que o gabinete presidencial tenha pressionado o fundo público a apoiar a fusão em troca de favores da Samsung a Choi Soon-il, considerada o cérebro da trama de corrupção e tráfico de influência do governo, mesmo sem possuir cargo público.

Park Geun-hye pode se tornar a primeira líder democraticamente eleita da Coreia do Sul a ser forçada a deixar o cargo antes do término do mandato. O escândalo de corrupção levou milhares de pessoas às ruas para protestar contra a presidente e pedir sua renúncia.