Governador de MS e Roberto de Oliveira Silva Junior estão entre fundadores da Coopsema, que também emitiu nota para a primeira-dama Fátima Alves de Souza Silva.
A Coopsema, cooperativa agrícola de Maracaju, que tem entre os fundadores o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), recebeu dinheiro no esquema que trocava isenção fiscal em MS por propina, segundo a Polícia Federal. É o que aponta o relatório do Inquérito 1190, no STJ (Superior Tribunal de Justiça), que indiciou 22 por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa.
De acordo com a investigação, o governador e o irmão dele, Roberto de Oliveira Silva Junior, estão entre os fundadores da Coopsema (Cooperativa Mista Serra de Maracajú), que congrega produtores rurais sul-mato-grossenses. Em março de 2015, esse grupo teria recebido da conta do frigorífico Buriti Comércio de Carnes R$ 177.998,64.
Questionados pela Polícia Federal, inicialmente os diretores da cooperativa disseram que ‘não lembravam do que se tratava tal transferência’.
No entanto, depois a defesa disse que a quantia seria pagamento de produtos fornecidos pela cooperativa para Reinaldo Azambuja. “Ou seja, a Coopsema teria fornecido produtos agrícolas para Reinaldo Azambuja e o escritório Carandá teria feito o pagamento”, conclui o relatório. Esta empresa é mencionada no relatório como administradora da conta do frigorífico Buriti.
Na ocasião, a cooperativa apresentou 15 notas fiscais emitidas entre 1º de setembro de 2014 e 5 de março de 2015, das quais, três, seriam em nome de Fátima Alves de Souza Silva, esposa do governador, e outras 12 no nome de Reinaldo Azambuja.
Já o governador teria dito que os R$ 177,9 mil seriam um ‘adiantamento’ da negociação com o frigorífico por venda de gado que ele só entregaria para abate em maio, supostamente num total de R$ 329.150,00.
Mas, no mesmo dia da transferência do primeiro valor para a cooperativa, a JBS fez dois repasses bancários para conta da Buriti, administrada pelo escritório Carandá, totalizando R$ 460.025,40.
Outro fator destacado pelos investigadores é que o irmão do governador, Roberto Oliveira Silva Junior recebeu, na mesma data, R$ 69.500,00, e a explicação também foi a de que seria adiantamento pela venda de bois.
“Chama a atenção o fato de os dois irmãos terem negociado gado com o escritório Carandá e terem recebido adiantamento na mesma data em que a JBS faz depósitos na conta administrada por esse escritório”, pondera a Polícia Federal.
Os diferentes números e somas citadas no decorrer das apurações, além do rastreio de informações bancárias do governador, resultam em “incongruências matemáticas”. Nos cálculos citados, se a venda de gado alegada pela defesa foi de R$ 329.150,00 e os R$ 177.998,64 seriam adiantamento, restaria saldo de R$ 151.151,36, que deveria ser pago pelo frigorífico.
Contudo, em 5 de maio de 2015 (data próxima à citada para abate), o escritório Carandá fez um depósito de cheque na conta de Reinaldo Azambuja, no valor de R$ 319.150,00. Somando a parte paga pelo suposto adiantamento da venda de gado em março, com o cheque, o valor da venda totalizaria R$ 497.148,64.
“Podemos concluir que é muito provável que o negócio de venda realizado entre o governador Reinaldo Azambuja e o escritório Carandá, caso realmente tenha ocorrido, foi realizado pelo valor total de R$ 319.150,00, sendo pago em uma única parcela no dia 5 de maio de 2015”.
Em outro ponto da investigação, o advogado do irmão de Reinaldo disse que a variação de valor citado pelo governador (R$ 329,5 mil) e o apontado como efetivamente transferido (R$ 319,5 mil), pela suposta venda de gado, seria por causa da diferença de peso do gado quando foi entregue.
Portanto, além de colocar em dúvida a negociação de gado, o relatório afirma que os R$ 177.998,64, transferidos pelo escritório Carandá para a Coopsema, em benefício de Reinaldo Azambuja, não teria a ver com negócio de gado, mas “possivelmente” ao pagamento de vantagem indevida da JBS em troca de benefícios fiscais.
A reportagem entrou em contato com a Coopsema ainda na semana passada, e aguarda resposta sobre as suspeitas apontadas no relatório final da Polícia Federal apresentado no inquérito da Operação Vostok. A defesa jurídica do governador e do irmão dele também foi acionada, mas não respondeu até o momento.
Advogado do escritório Buriti, Leonardo Duarte, negou repasses feitos pelo frigorífico e disse, sem citar nomes, que ‘supostamente’ teriam sido por parte dos ‘terceirizados’. Afirmou, ainda, que tal informação já constou na investigação, “tanto é que ninguém pediu o indiciamento do frigorífico por corrupção ativa, passiva, ou lavagem de dinheiro”.
A reportagem procurou o escritório Carandá, por meio de número de telefone citado no relatório, mas as chamadas deram sinal de desligado.
Por: MidiaMax/Mayara Bueno
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