Se adapte com o fim do horário de verão

Amanhã, quando chega ao fim o horário de verão 2015, algumas pessoas podem sentir certos desconfortos no organismo ao terem de se adaptarem à mudança.

“A volta ao padrão ‘convencional’, em alguns Estados, pode causar incômodos, durante os primeiros dias”, revela a clínica geral e geriatra do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos (São Paulo), médica Rossana Maria Russo Funari.

“Em geral, é normal sentir um mal-estar, uma dificuldade para dormir no horário habitual (o horário do relógio) e um pouco de sonolência diurna”, orienta a médica.

Em alguns casos, esses sintomas podem incluir alterações de humor e de hábitos alimentares.

“Tudo isso acontece devido a uma mudança do ritmo circadiano do organismo.” Normalmente, o processo de readaptação total do indivíduo as condições basais leva quatro dias.

Porém engana-se quem pensa que os efeitos são os mesmos sentidos pelo corpo humano durante o “jetlag”, famosa fadiga de viagem ocasionada por mudanças no fuso.

“No horário de verão, as mudanças nesse ritmo são mais suaves e não causam tantas consequências na maioria das pessoas. Já no ‘jetlag’, temos uma condição menos fisiológica, que é uma consequência de alterações no ritmo circadiano, mais intenso em viagens longas em que há grandes mudanças de fuso horário.”

Quem quiser evitar problemas durante esse período, a especialista recomenda, na medida do possível, preparar-se para dormir, mais ou menos, no horário de sempre (do relógio).

“Uma boa dica é dormir com as janelas abertas, pelo menos, nos primeiros dias para que seja possível acordar naturalmente com a claridade.” Isso ajudaria na sincronização dos relógios físico e biológico. Outra recomendação é não dirigir por várias horas seguidas (por exemplo, pegar estradas), durante os dias em que a pessoa estiver mais sonolenta e fadigada.

Controverso

Acordar quando o dia ainda está escuro, ficar irritado, com sono, sem atenção e até mesmo bater o carro. Amado por uns, odiado por outros, o horário de verão começa a ser questionado por médicos e pesquisadores que afirmam que a alteração no relógio biológico das pessoas prejudica a qualidade do sono e pode causar muito prejuízo.

Um estudo realizado no Canadá em 1991 e 1992 pela University of British Columbia constatou um aumento de 8% no número de acidentes de trânsito no dia seguinte à implantação do horário de verão. A pesquisa demonstrou que mesmo as pequenas mudanças na quantidade de sono podem causar danos às atividades diárias das pessoas, como dirigir. A alteração na quantidade de luz, segundo a pesquisa, faz com que o cérebro das pessoas acredite que ainda é noite e, portanto, hora de dormir.

No Brasil, uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) relaciona a sonolência diurna excessiva em caminhoneiros do estado com o desempenho no trânsito.

Alguns resultados já apurados mostram que 19,1% dos motoristas adormecem eventualmente ao volante e 2,8% adormecem diariamente ou quase diariamente.

Os dados apontam ainda que 171 pessoas (39,8%) já se envolveram em acidentes de trânsito, sendo que 16,4% relataram que o sono pode ter sido o responsável.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 40% dos brasileiros sofre de insônia, um dos distúrbios do sono mais comuns e que é gravemente afetado no período do horário de verão. “O sono das pessoas no horário de verão não é restaurador”, comenta o pneumologista e chefe do Laboratório do Sono da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Viegas.

Para o especialista, o horário de verão não deveria ser implantado.

“O que comanda o sono e a vigília, é o claro e o escuro, e quando você antecipa isso por meio do relógio e modifica essa relação você tem um sono ruim”, afirma.

De acordo com Viegas, a “perda” de uma hora no sono pode causar irritabilidade pela manhã, dificuldades de concentração e falhas na memória, mudanças que prejudicam as atividades rotineiras. O médico explica que um adulto normal leva de dois a cinco dias para se adaptar ao novo horário.

Algumas pessoas nem sentem a mudanças, mas, para outras, se acostumar com o horário de verão é um desafio a ser encarado todos os anos. “Eu acho esse horário de verão horrível”, afirma a enfermeira Tânia Alves, que a partir de hoje terá de acordar às 4h da manhã. “Eu sinto muito mal-estar e sonolência e infelizmente não consigo repor o cansaço”, reclama.

Uma boa dica para minimizar os incômodos da mudança é dormir mais ou menos no mesmo horário de sempre e controlar a temperatura e a luminosidade do quarto.

“A pessoa deve ir para a cama no momento em que tem sono, se você não conseguir dormir saia do quarto, não fique brigando com a cama porque isso agravará o problema”, explica Viegas.

O horário de verão tem como objetivo aproveitar melhor a luz natural do dia e dessa forma aliviar o sistema de energia durante o verão, principalmente nos horários de pico.

O horário de verão foi instituído pela primeira vez no país em 1931, sendo que, a partir de 1985, o governo passou a adotar a medida todos os anos.

Além do Brasil, ele também é adotado nos países da União Européia (entre março e outubro), nos Estados Unidos, Canadá e México (entre abril e outubro), além da Rússia, Turquia e Cuba. No hemisfério Sul, a medida é adotada entre outubro e março na Austrália, Nova Zelândia e Chile.