Segundo vizinhos, menino de 6 anos pego furtando nunca foi à escola
Y. com a mãe: “Corrigi meu filho em casa”, disse ela. / Foto: Fábio Guimarães

Neto de um pedreiro, o menino X., de 6 anos — detido nesta sexta-feira ao lado de outra criança, de 12 anos, após furtar o cordão de ouro de uma mulher na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão — vive com a mãe e outros irmãos menores no Tuiuti. De acordo com vizinhos, o garoto nunca frequentou uma escola e passa maior parte do dia nas ruas. O menino de 12 anos apreendido ao lado de X. também não está estudando atualmente. A notícia de que X foi apreendido pela polícia não causou espanto a quem o conhece.

— Ele é levado mesmo. Nunca esteve numa escola. Pra gente, não foi surpresa. Fica na rua o dia inteiro e chega ir à praia sozinho. Já trouxe outros dois cordões para cá — disse um vizinho de X.

Y. é descrito pela mãe, uma cozinheira, como um menino calmo, que ano passado concluiu o 6º ano. Segundo ela , o garoto foi corrigido e teve dificuldades para dormir.

— Eu conversei e corrigi meu filho em casa. Ele chorou muito desde que saiu da delegacia. Me prometeu que não fará mais uma coisa desta. Nenhuma mãe que ver o filho passar por isso. Ele está proibido de andar com o X. — disse a cozinheira.

A mãe de Y. revelou porque seu filho ainda não está estudando em 2015:

— Ele estudava numa escola que só vai até o 6º ano. Foi transferido para uma escola do bairro do Caju. Lá é longe. Estou tentando algo mais perto.

Vítima do assalto, a cortadora de roupas Ana Cláudia de Araújo, de 40 anos, diz que não desconfiou dos garotos por eles serem novos demais:

— Eu saí do trabalho com a minha sobrinha em direção à estação de trem. Em frente à Quinta da Boa Vista, vi que os dois meninos vinham andando de bicicleta, mas nem liguei. Não desconfiei justamente por causa da idade e do tamanho deles. Foi quando o menor passou bem rente a mim e puxou meu cordão de ouro, que ganhei há oito anos da minha mãe falecida, e entregou ao mais velho. Ele ficou muito nervoso e jogou em um bueiro. Imediatamente abordei uma viatura que passava na rua e em seguida os meninos foram pegos. Depois que eu os reconheci, fomos para a delegacia no carro da PM. O mais novo não falou nada, mas o mais velho estava arrependido e chorava muito. Estou muito assustada. Vou mudar meu caminho porque tenho receio que eles marquem a minha cara. Acho que o erro está na estrutura familiar deles, pois tenho 14 sobrinhos que, com certeza, não fariam nada parecido.

O envolvimento do menor de 6 anos chocou especialistas e reacendeu o debate sobre a redução da maioridade penal. Para o desembargador Siro Darlan, coordenador das Varas da Infância, Juventude e Idoso, a falta de políticas públicas nas comunidades acaba levando os jovens para o crime.

— Eles (os menores) estão habituados a nascer e crescer ouvindo sempre não — disse.

O desembargador Guaraci Vianna, ex-juiz da 2ª Vara da Infância e Juventude, acha que o envolvimento de crianças no crime é reflexo do ambiente, mas crê que rigor na punição é mais eficaz que redução da maioridade penal.

Para o coronel Milton Corrêa da Silva, especialista em segurança pública e defensor da redução da maioridade penal, o caso deve ser visto com cuidado. A certeza da impunidade, segundo ele, é o que atrai cada vez mais adolescentes e crianças ao mundo do crime.

O ex-secretário nacional de Segurança, Coronel José Vicente da Silva Filho, diz que esses casos são reflexos da formação e podem ser resolvidos com política social. Mas, para crime hediondo defende todo rigor para o menor, com redução penal.