PF diz que advogado usou escritório para receber dinheiro em troca de decisões do pai.

Filho e pai foram investigados por venda de sentença. / Foto: Deivid Rodrigues e TJMS

A Polícia Federal dedicou um capítulo à parte para explicar a investigação contra o empresário e advogado Rodrigo Pimentel, em Campo Grande. Ele é filho do desembargador Sideni Soncini Pimentel, afastado por suspeita de vender decisões judiciais. Saltou aos olhos o aumento vertiginoso do patrimônio de Rodrigo. 

Nesse e demais casos, a PF apura se filhos de magistrados usavam seus escritórios de advocacia como forma de receber dinheiro daqueles que compravam decisões favoráveis. 

O envolvimento de Rodrigo, diz a Polícia Federal, começou quando este recebeu valores de uma advogada suspeita de aplicar golpe de R$ 5,5 milhões em um aposentado do Rio de Janeiro. Parte desse valor foi passado para Rodrigo, a fim que o desembargador Sideni Pimentel, o pai dele, desse decisão favorável a Emmanuelle Silva. 

 
Com o aprofundamento da apuração, descobriu-se que Pimentel filho tinha diversas empresas, que somavam capital social de R$ 12 milhões. São seis empresas em ramos como soluções médicas, móveis planejados e consultoria em projetos. 

O relatório consta em decisão do ministro do STJ que autorizou a deflagração da Operação Ultima Ratio. Chamou a atenção dos investigadores o fato das empresas, algumas que trabalham com comércio varejista, conforme o Cadastro Nacional de Atividades Empresariais, não constar registro de funcionários em seus quadros. 

''... em 2018, declarou ter recebido de rendimento anual o valor total de R$ 3.310.068,00, ou seja, de um ano para o outro o investigado aumentou seus rendimentos em mais de 62 vezes. Mais do que isso, Rodrigo Pimentel declarou ao fisco no ano de 2022 rendimento anual no valor total de R$ 9.226.989,95, isto é, em 6 anos ele aumentou seus rendimentos em mais de 174 vezes'', diz trecho da apuração dos investigadores federais. 

O crescimento vultuoso do patrimônio de Rodrigo foi considerado pela polícia como algo que ''destoa da normalidade''. 

A polícia analisou movimentação financeira do filho de Sideni. Em algumas delas, o advogado envia o mesmo valor ou valores próximos de uma conta de pessoa jurídica para outra antes de enviar o dinheiro para determinada pessoa. Isso, dizem investigadores, é prática comum usada com recursos de origem ilícita para disfarçar o patrimônio ou repasse de dinheiro para terceiros. Também dificulta a fiscalização e controle de órgãos do sistema financeiro.  

Ultima Ratio   

Os magistrados são investigados em uma ação que apura possíveis crimes de corrupção envolvendo vendas de decisões judiciais, lavagem de dinheiro, organização criminosa, extorsão e falsificação de escrituras públicas.

Os desembargadores foram afastados no dia 24 de outubro, na Operação Ultima Ratio, deflagrada pela PF. Foram cumpridos 44 mandados de busca e apreensão expedidos pelo STJ em Campo Grande/MS, Brasília/DF, São Paulo/SP e Cuiabá/MT.

O STJ determinou o afastamento do exercício das funções públicas de servidores, a proibição de acesso às dependências de órgão público, a vedação de comunicação com pessoas investigadas e a colocação de equipamento de monitoramento eletrônico.

Entramos em contato com o escritório de advogacia que seria de Rodrigo, no Carandá Boques, mas a ligação não atendeu. O espaço está aberto a todos os citados.