A atual auditora-geral do Governo do Estado, Tatiana Silva da Cunha, que de acordo com o Portal de Transparência estadual recebeu R$ 29,8 mil no mês de janeiro deste ano, afirmou à Justiça não ter condições de comprar remédios com preços equivalentes a 20% do salário dela.

A servidora ocupa a função desde a gestão de André Puccinell (PMDB), e chegou a ser flagrada em um dos grampos divulgado durante as investigações da Operação Lama Asfáltica. Em meados de 2015, ela afirmou à Justiça que não tinha ‘condições financeiras de adquirir o medicamento, sem prejuízo de sua subsistência’.

A denúncia feita ao Jornal Midiamax, aponta ainda que além da remuneração ser de quase 34 salários mínimos, a auditora ainda possui imóveis em seu nome que declarou valer pelo menos R$ 2,5 milhões. Uma fazenda no município de Bodoquena, próximo a Miranda, de 450 hectares, está no nome de Tatiana, e pode custar pelo menos o dobro, se levado em conta as benfeitorias que há no local, segundo corretores de imóveis.

Uma outra fazenda, do marido de Tatiana, de 9,6 mil hectares em Corumbá, também foi declarada com o valor de R$ 2,5 milhões. No entanto, propriedades semelhantes na região do Pantanal, pesquisadas pela reportagem, têm o preço de R$ 6 mil o hectare, o que elevaria o preço da propriedade para mais de R$ 5,7 milhões.

O medicamento em questão é o Clexane 40 MG (Enoxaparina Sódica), que, conforme documentos apresentados pela própria servidora, custavam de R$ 4,5 mil a R$ 6,2 mil, e seria usado no tratamento da Trombofilia. A condição médica foi atestada com laudos anexados no processo.

Segundo os dados disponíveis no Portal da Transparência, entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016, o salário da servidora praticamente dobrou. Ela terminou 2015 recebendo R$ 11,5 mil como auditora do Estado, e mais R$ 3,2 mil como Auditora Geral do Estado, valores que saltaram em 2016, respectivamente, para  R$ 23,3 mil e R$ 6,5 mil.

Família

A servidora, no entanto, garante que há equívocos na remuneração de 2016 informada pelo Governo de MS, do qual é auditora-geral. Ela afirma que já solicitou a correção dos valores informados no Portal da Transparência e diz que a denúncia estaria ligada a um imbróglio familiar, que envolveria a doação da fazenda que atualmente está em seu nome.

 “Na época estava com muitos empréstimos, estava recebendo R$ 5 mil líquido, e a medicação ficava quase R$ 2 mil por mês, era mais do que 30% do meu salário. E essa fazenda é uma doação feita pelo pai para depois de sua morte”, explica.

De acordo com o Portal da Transparência do governo, à época do pedido o valor recebido pela servidora após as deduções obrigatórias, onde não constam, por exemplo, gastos com empréstimos, financiamentos e plano de saúde, era de R$ 9,8 mil. 

“Eles ficam pesquisando meu nome, meus irmãos. Valor do meu salário não passa de R$ 10 mil. Eu tinha que tomar uma injeção todo dia”, afirma. A servidora está de licença maternidade até o fim de maio.

Ela conta ainda que até o 4º mês de gestação pagou pelo medicamento, e só fez a requisição ao Estado quando começou a ter problemas financeiros. “E o Estado tem obrigação de assegurar a saúde ao cidadão, rico ou pobre. A saúde é um dever do Estado e direito do cidadão”, diz.

Já sobre sua propriedade, ela diz que está em litígio com a família, uma vez que os irmãos questionam a doação feita por seu pai. “Querem prejudicar minha vida profissional. A doação que meu pai fez é para valer após a morte, eu não tenho essa fazenda de milhões”, finaliza.