Sete das 28 delegações dos países que estarão em São Paulo se preparando para disputar a Olimpíada no Rio de Janeiro terão a segurança reforçada por correrem maiores riscos, informou ao G1 a Polícia Militar (PM). Esse pequeno grupo de nações, que não foi divulgado, acabou classificado entre os níveis "alto" e "muito alto" numa análise de risco, que leva em consideração, por exemplo, ameaças terroristas e número de integrantes.

Os 28 países que terão parte de suas delegações em cidades do estado de São Paulo são: África do Sul, Alemanha, Argélia, Argentina, Austrália, Brasil, Camarões, Canadá, Catar, China, Colômbia, Coréia do Sul, Egito, Emirados Árabes, Eslovênia, França, Grã-Bretanha, Índia, Indonésia, Iraque, Israel, Itália, Japão, Nigéria, Rússia, Tunísia, Uzbequistão e Zimbábue.

A escala de classificação de risco usada para analisar todas essas nações tem cinco níveis: muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto. “A análise de risco foi feita de uma forma multiagências e sete delegações que ficarão em São Paulo têm um nível mais elevado”, disse o tenente-coronel Luiz Renato Fiori, adjunto da coordenadoria operacional da PM. Ele não divulgou quais são esses países “por motivos de segurança”.

Levantamento feito pelo G1 mostra que 22 destes países que terão delegações passando pelo estado de São Paulo foram alvos de atentados, revidaram ataques, tiveram nativos mortos ou ainda investigam a suspeita da atuação do grupo terrorista Estado Islâmico (EI) em seus territórios. Uma dessas nações é o Brasil, que na quinta-feira (21) deteve dez pessoas por suspeita de ligação com os radicais jihadistas que planejavam ataques ao Rio durante os Jogos Olímpicos. Sua delegação ficará em São Paulo, Campinas e Mogi das Cruzes.

Outra nação é a França, que no último dia 14 foi alvo de um ataque com caminhão, que matou 84 pessoas. A delegação francesa treinará na capital paulista.

A Olimpíada vai durar de 5 a 21 de agosto. Os jogos do torneio de futebol, no entanto, começarão antes: no dia 3 do próximo mês. A Arena Corinthians, em Itaquera, Zona Leste de São Paulo, irá receber dez partidas dos Jogos Olímpicos Rio-2016: seis masculinos e quatro femininos, mais a passagem da tocha olímpica.

Além do estádio e centros de treinamento onde ficarão as delegações, hotéis (que receberão comissão técnica, atletas, autoridades e chefes de estado), aeroportos, estações de trem e metrô, pontos turísticos e consulados serão vigiados por 3 mil policiais à paisana e outros 3 mil agentes do policiamento ostensivo.

Com o risco de atentados, a PM também se preocupa com a segurança da população e orienta que ela denuncie suspeitos durante a Olimpíada. "Atitudes suspeitas de pessoas bem fora de contexto, pessoas carregando mochilas pesadas, objetos deixados em alguns cantos", disse Fiori.

A maior delegação no estado será da China, com mais de 400 atletas e membros de comissão técnica que treinarão em São Paulo e Mogi das Cruzes.

Além da PM, a Polícia Civil, a Polícia Federal (PF) e o exército brasileiro cuidarão da segurança das delegações e da população em São Paulo. As polícias dos países envolvidos na Olimpíada também colaborarão com as forças de segurança nacionais.

“Todas as delegações vão ser providas de segurança. Só que algumas com suporte um pouco maior e outros com suporte um pouco menor”, disse o tenente-coronel Fiori sobre o reforço policial para os países. “Por volta de sete delegações estão num suporte um pouco maior.”

O coronel também é membro do Comitê Paulista das Olimpíadas-2016, ligado ao governo do estado de São Paulo, e gerente regional e estadual da Tocha Olímpica.

A tabela de classificação de risco foi feita por um grupo interagências, formado pelas forças de segurança de diversas nações, para trabalhar na Olimpíada. A Polícia Federal (PF) adota o mesmo sistema. “Tamanho da delegação, os últimos acontecimentos, onde essa delegação vai ficar, tudo isso influencia no planejamento. Então, de acordo com isso, vai majorar ou não o efetivo, de acordo com a necessidade”, afirmou Fiori.

De acordo com a PM, a segurança da Olimpíada vem sendo planejada há dois anos. "Esse policiamento preventivo, ele vai fazer o que nós chamamos de antiterrorismo, ações antiterroristas", afirmou Fiori. "Nada mais é do que a presença dos policiais nos locais certos com a visão tanto criminal, nesse espectro de situações, criminal, terrorista, para que ele possa coibir qualquer tipo de ação."

22 países x EI
Apesar de a PM não divulgar quais são os países classificados como os de maior risco, levantamento feito pelo G1 mostra que África do Sul, Alemanha, Argélia, Argentina, Austrália, Brasil, Camarões, Canadá, China, Egito, Emirados Árabes, França, Grã-Bretanha, Indonésia, Iraque, Israel, Itália, Japão, Nigéria, Qatar, Rússia e Tunísia são nações que já apareceram na imprensa mundial por algum episódio envolvendo o Estado Islâmico.

O EI, que tem base no Oriente Médio, pratica ataques terroristas a partir de uma visão distorcida do Islã, segundo especialistas da religião mulçumana. O grupo também convoca seguidores em outros países pela internet para atacar as nações que consideram inimigos mulçumanos. Os simpatizantes são conhecidos como 'lobos solitários', por não terem recebido treinamento militar e praticarem atentados usando armas, veículos ou até ataques suicidas.

O Brasil é o exemplo mais recente. A duas semanas do início da Olimpíada do Rio, a Polícia Federal (PF) realizou na quinta-feira operação sigilosa de combate ao terrorismo que prendeu dez pessoas em dez estados, informou o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, em entrevista coletiva concedida em Brasília. Foram as primeiras prisões no país por suspeita de ligação com Estado Islâmico.

Antes, o foco da mídia para o terrorismo foi a França. No último dia 14, um caminhão atropelou e matou 84 pessoas e feriu outras 50 que estavam assistindo à queima de fogos em comemoração da Queda da Bastilha, em Nice, cidade francesa. A suspeita é que o ataque tenha sido cometido pelo EI.

Questionado se a França é o país que mais preocupa a segurança da PM, o coronel despistou. “Não necessariamente. Nós fazemos uma análise de risco. Essa análise de risco, de acordo com as informações que nós recebemos, nós fazemos escalonamento em relação as delegações”, disse Fiori.

De acordo com o coronel, a PM fará a escolta de todas as delegações. "Só de chegadas, por volta de 40 escoltas [serão feitas pela Polícia Militar] nesse período de aclimatação".