Site “Tem Açúcar?” facilita empréstimos entre vizinhos
Home Informação Inspiração Carreira Blogs Colunas Eleições Revista Caminhos para o futuro Princípios Editoriais tamanho do texto A- A+ 05/03/2015 08h16 - POR EDSON CALDAS Site “Tem Açúcar?” facilita empréstimos entre vizinhos Criada por estudante de comu / Foto: Divulgação/Tem Açúcar?

Quantas vezes você já se pegou precisando de um utensílio doméstico ou ferramenta que não tinha em casa? E pior: depois de comprar, nunca mais usou aquilo. Um site criado por uma estudante de comunicação se propõe a resolver esse problema. O Tem Açúcar? resgata o costume de bater na porta do vizinho para pedir um socorro — só que tudo online. A plataforma é gratuita e já tem mais de 28 mil usuários cadastrados pelo Brasil.

No site, o usuário coloca seu bairro e pede emprestado o item de que precisa. Cada área necessita de, pelo menos, 13 moradores locais para funcionar. A página pergunta então aos vizinhos, por e-mail, quem tem o produto a ser emprestado. O vizinho responde à mensagem incluindo as condições de uso, com data de empréstimo e devolução e combina o local de encontro. Depois, os usuários fazem avaliações um do outro para aumentar a credibilidade tanto de quem empresta quanto de quem pediu emprestado.

A ideia é de Camila Carvalho, inspirada em páginas semelhantes que fizeram sucesso lá fora, como StreetBank e Peerby. “Começou com uma inquietação minha, quando eu estava trabalhando como modelo”, afirmou a jovem, em entrevista à Época NEGÓCIOS. Camila morou em países como Índia, Tailândia e China. “Muito da parte que não queremos ver do consumo está lá na Ásia: a mão de obra escrava e o descarte. Tanto a desigualdade social como ver esse lado do consumo mexeram comigo.”

Ao voltar para o Brasil, queria fazer alguma coisa em relação àquilo. Ela estudou economias alternativas e se formou como designer em sustentabilidade, pelo Gaia Education, recomendado pela ONU. Lá, conheceu a economia do compartilhamento, uma tendência mundial. “Fiquei com vontade de fazer isso no Brasil”, diz Camila. Como no país havia uma barreira cultural (os brasileiros são mais desconfiados, segundo a empreendedora), o site teria de ter ferramentas para aumentar a confiança dos usuários.

Em 2014, ela lançou uma página apenas introduzindo a ideia, para ver como seria a resposta na internet. Em duas semanas, já havia 2 mil interessados. Foi quando Camila percebeu que as pessoas realmente queriam ver aquilo acontecendo. Procurou uma empresa de programação e, em dezembro do mesmo ano, colocou o site no ar. Hoje, divide o tempo entre as aulas de comunicação e seu papel no site — de que cuida sozinha.

Financiamento


Até agora, a jovem tem investido do próprio bolso na iniciativa. Seu modelo de negócios é “experimental”, ela diz. A empreendedora não quer restringir o acesso ao serviço por meio de pagamento — quer inserir uma cultura diferente. A proposta parte do princípio de as pessoas se responsabilizarem a manter projetos de que gostam. A ideia é colocar o “Tem Açúcar?” em uma plataforma de financiamento colaborativo recorrente. Nela, os usuários decidem um valor mensal para pagar. “É uma nova forma de monetarizar um site, não é a forma mais comum aqui no Brasil, mas é uma forma em que acredito muito.”

Consumo consciente


Segundo Camila, um dos papeis do site é difundir um consumo mais consciente, ajudando a evitar compras desnecessárias. “O objetivo dele é realocar recursos que existem, mas muitas vezes estão ociosos, passando de onde eles são abundantes para onde são escassos”, afirma.  “O planeta não aguenta o volume de produção atual. Você gasta muita matéria-prima e energia com transporte e produção de produtos.” Para a empreendedora, é importante diferenciar o que realmente necessário do que é somente um capricho, na hora de comprar.

Além disso, o site busca trazer de volta o “sentimento de comunidade”, deixado de lado em cidades grandes. A ideia é despertar uma sensação de interdependência entre os vizinhos e aproximar as pessoas. Em um cenário ideal, diz Camila, o “Tem Açúcar?” não seria sequer necessário: bastaria bater na porta ao lado e fazer essa pergunta.