Festas de fim de ano são um convite ao soluço. Esse espasmo no diafragma, músculo que separa o tórax do abdome, vez ou outra aparece pela distensão provocada pelo consumo de um grande volume de líquidos e alimentos. Se a bebida for alcoólica, que é uma substância irritante, a chance de terminar a noite repetindo aquele "hic" característico é maior ainda.
A maioria dos soluços é episódica, ou seja, aparece de vez em quando e tem curta duração, como explica o médico-cirurgião Sidney Klajner, do Hospital Israelita Albert Einstein, especialista em gastroenterologia.
Além da distensão gástrica, ele conta que mudanças bruscas de temperatura, que fazem os músculos se contraírem, são outra causa comum para esse problema, que afeta pessoas de todas as idades.
Bebês e crianças pequenas são vítimas frequentes dos espasmos, principalmente depois de tomarem a mamadeira ou ao trocarem de roupa. "Isso ocorre devido à imaturidade dos sistemas digestivo e respiratório", explica Klajner. Há indícios até de que os fetos sejam afetados pelo soluço com alguma frequência no útero materno.
Mais de dois dias
Em geral, as crises passam sozinhas e não devem ser motivo de preocupação. Mas soluços que persistem por mais de dois dias são sinal de que há algo errado no organismo e devem ser investigados.
As origens podem ser diversas, de acordo com o cirurgião: envolvem desde um simples refluxo (subida dos ácidos do estômago para o esôfago) a doenças neurológicas (incluindo derrames e alzheimer), passando por estresse físico e até tumores. "O tratamento vai depender da causa", resume Klajner.
Também há casos de soluços persistentes ou intratáveis, como são chamados os espasmos crônicos, para os quais a medicina não encontra explicação. "E toda situação pouco conhecida pelos médicos dá margem a tratamentos alternativos", comenta o médico.
Origem desconhecida
De fato, ainda não existe uma explicação muito precisa nem para a origem dos soluços, um incômodo que parece não ter função para o organismo.
Um estudo publicado em 2003 por pesquisadores franceses do Hospital Pitié-Saltpetrière sugeriu que eles seriam uma herança dos ancestrais anfíbios do ser humano. Para esses animais, era preciso contrair os músculos envolvidos na respiração para impedir que a água entrasse nos pulmões.
Segundo a equipe liderada pelo cientista Christian Straus descreve em artigo no periódico "BioEssays", esse circuito nervoso dos anfíbios teria persistido em alguns mamíferos. Existe a suspeita de que isso seria útil para impedir a entrada de líquido amniótico nos pulmões dos fetos, por exemplo. Mas nenhuma dessas teorias foi comprovada até hoje, é bom deixar claro.
Essa dificuldade de entender o fenômeno torna ainda mais difícil tratar casos persistentes sem causa aparente, como o de uma jovem britânica de 13 anos chamada Emily Marsh, noticiado pela BBC no ano passado.
Nas situações em que não é possível encontrar uma causa, que são raras, é comum os médicos tentarem amenizar os sintomas com sedativos e relaxantes musculares, relata Klajner. Existem até estudos, segundo ele, com uma espécie de marca-passo para o músculo do diafragma - algo que poderia trazer algum alívio para esses pacientes.
Para os casos episódicos, que provavelmente serão comuns neste Réveillon, o cirurgião confirma que tomar água, prender a respiração e levar um susto -- dicas clássicas da sabedoria popular -- costumam mesmo amenizar o problema, já que imobilizam ou obrigam o diafragma voltar a seu ritmo normal.
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