Equipamentos de telemetria utilizados para rastrear animais aquáticos na natureza estão sendo empregados pela primeira vez no Brasil em um viveiro escavado a fim de revelar o comportamento do pirarucu.
Chips eletrônicos projetados para traçar o trajeto de tubarões, tartarugas e golfinhos em águas abertas foram implantados na cavidade abdominal do pirarucu (Arapaima gigas) com o objetivo de descobrir detalhes comportamentais do animal em cativeiro.
O experimento está em andamento na fazenda Acácia, no Município tocantinense de Porto Nacional, sob a responsabilidade de pesquisadores da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO).
"O objetivo nesse primeiro momento é testar a tecnologia para saber se será possível seu uso em condições diferentes das originalmente projetadas para o equipamento", conta a engenheira de pesca Adriana Lima, pesquisadora da Embrapa responsável pelo trabalho.
O desafio, segundo ela, é conseguir obter precisão da ordem de 20 centímetros, ao passo que nos rastreamentos em ambientes naturais, como oceanos e lagos, os cientistas trabalham com medidas de distância maiores, calculadas em metros.
Adriana revela que os resultados iniciais são positivos e a primeira coleta de dados foi enviada à empresa canadense Vemco, fabricante do equipamento, que conseguiu traçar a trajetória dos peixes dentro do tanque com o grau de precisão desejado.
O comportamento do pirarucu em cativeiro ainda não é totalmente conhecido. A pesquisadora explica que o conhecimento a respeito é empírico e baseado, principalmente, na experiência dos criadores desse peixe.
"Pretendemos verificar se essas informações são fiéis à realidade e aumentar o conhecimento sobre o comportamento do pirarucu", diz.
Sabe-se, por exemplo, que a espécie forma casais para se reproduzir, entretanto ainda não é totalmente elucidado o modo como se dá a escolha de parceiros.
Os pesquisadores esperam que a tecnologia ajude a descobrir se há disputa entre os machos pela fêmea antes do acasalamento.
Também será possível saber qual dos membros do casal cuida da prole recém-nascida, ou mesmo se esse cuidado é partilhado.
Apesar de possuir elevado potencial comercial por características como rápido crescimento, grande porte e alto valor de seu couro, o pirarucu não pode ser considerado totalmente domesticado.
A identificação dos sexos, modo de acasalamento e comportamento em cativeiro ainda são pontos a serem esclarecidos para que se estabeleça um sistema de produção moderno e controlado.
A pesquisadora Adriana Lima acredita que o monitoramento por sensores acústicos subaquáticos pode trazer respostas que auxiliarão centenas de produtores de pirarucu a melhorar a produtividade.
Trajetória submersa
O Sistema de Posicionamento Vemco (VPS, em inglês) é um kit com transmissores e receptores subaquáticos de precisão projetados para monitorar e rastrear animais em rios, lagos e mares.
Os maiores usuários da tecnologia são cientistas que estudam a migração e comportamento de espécies aquáticas. São necessários no mínimo três receptores fixados com âncoras.
A posição de cada um é registrada por meio de sistema de posicionamento global (GPS). Inserido no animal, o chip emite uma radiofrequência e o sistema calcula sua posição pela diferença de tempo entre o recebimento do sinal de cada receptor.
"Como resultado da análise das informações e dos dados coletados, temos as posições calculadas de cada indivíduo ao longo do tempo", explica a representante da Vemco no Brasil, Taís Dantas Santos, ressaltando que os dados não são transmitidos em tempo real, mas armazenados e coletados posteriormente.
A empresa processa as informações gravadas e devolve aos pesquisadores um relatório final com as posições calculadas em forma de planilhas ou imagem plotada no aplicativo Google Earth.
Nesse caso, o resultado é uma imagem aérea do local de monitoramento com a trajetória de cada animal ao longo do tempo e em linhas de cores diferentes.
Para o experimento com o pirarucu, iniciado em janeiro, foram instaladas onze antenas receptoras, cujo formato assemelha-se a uma garrafa de refrigerante do tipo PET, distribuídas em um tanque de 1.440 m2 de lâmina d'água.
Na fase de testes do equipamento, apenas três peixes foram colocados no viveiro. Todos receberam o chip de monitoramento.
"Não temos informações sobre o uso desse equipamento em tanques escavados no restante do mundo, mas, com certeza, é o primeiro experimento desse tipo no Brasil", afirmou Taís Dantas.
Os pesquisadores receavam que a aplicação dessa tecnologia em um viveiro escavado poderia não trazer resultados precisos o suficiente para uma análise detalhada.
Os primeiros resultados, no entanto, dissiparam as dúvidas. "Vimos que é possível observar a posição dos peixes no tanque e estudar seu comportamento com o equipamento", relata a pesquisadora da Embrapa Adriana Lima.
A cientista informa que, nas próximas etapas do experimento, serão monitorados mais peixes em condições semelhantes às de uma criação.
Com isso, a equipe de pesquisa pretende entender o comportamento do pirarucu e gerar conhecimentos valiosos para o desenvolvimento da criação do peixe conhecido como gigante da Amazônia.
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